A poucos dias do primeiro turno das eleições presidenciais, uma nova batalha se consolida. De acordo com as mais recentes variações nas pesquisas de opinião, Dilma tem perdido votos depois das denúncias de trafico de influencia no Ministério da Casa Civil, em torno da sua ex-assessora Erenice Guerra (demitida em seguida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva). As mesmas pesquisas indicam que a candidata do PV, Marina Silva, foi a maior beneficiada pela queda da candidata do governo. Segundo a mais recente sondagem Datafolha, Marina subiu três pontos percentuais e chegou a 14% das intenções de voto. Se Dilma Rousseff não vencer já no primeiro turno, a responsável pode ser sua ex-colega de ministério.

O presidente Lula, apesar de não ter seu nome nas urnas de uma eleição geral pela primeira vez desde a redemocratização (candidatou-se a governador de São Paulo em 1982, foi eleito deputado federal em 1986 e disputou a Presidência em 1989, 1994, 1998, 2002 e 2006), é um personagem central no pleito. Lula tem feito tudo o que pode para garantir que sua escolhida o substitua no Planalto, inclusive participado ativamente de comícios em que geralmente se torna a atração principal. Suas aparições no horário eleitoral gratuito na TV foram certamente responsáveis em grande parte pela disparada de Dilma nas pesquisas. Lula tem sido, até agora, um supracandidato, um personagem central da campanha que, na boca a urna, vê seus planos ameaçados por uma ex-companheira de mais de 20 anos.

Se sua história de vida fez de Lula um símbolo da ascensão da classe trabalhadora, um exemplo de luta em meio á massa operária do ABC paulista, Marina Silva pode ser vista como seu espelho no norte do Brasil. Ex-colega de ativismo de Chico Mendes, com quem fundou a Central Única dos Trabalhadores do Acre em 1985, Marina era o Lula da Amazônia. Em sua luta pelos direitos dos seringueiros e pela defesa da floresta, era uma militante pura, símbolo de um Partido dos Trabalhadores diferente de “tudo que está ai”, como dizia um antigo jingle de campanha de Eduardo Suplicy. Em comparação com a pragmática Dilma Rousseff, que passou mais tempo de sua vida politica no PDT do que no PT, Marina Silva é a essência do purismo petista de outrora. Apesar de ter sido, assim como Dilma, ministra de Lula, abandonou a Presidência lulista. Diante do que chamou na época de “dificuldades” para realizar seu trabalho, acabou jogando a toalha. A ex-pedetista associada à ideia de crescimento econômico (energia, PAC) ganhou o espaço que poderia ter sido de petista histórica, defensora da floresta. Na prática, Lula trocou uma companheira pela outra.

Agora, roubando votos de Dilma Rousseff, Marina Silva ameaça estragar os planos de seu ex-amigo e ex-colega de luta sindical. O projeto de Lula será significativamente abalado caso Dilma não assegure uma vitória já no primeiro turno, o que explica por que o presidente tem estado tão dedicado em evitar uma segunda votação. Caso José Serra consiga obter o apoio de Marina e derrotar a candidata do presidente, terá realizado um feito histórico. Mas o mais provável é que, mesmo em um segundo turno, Dilma continue sendo favorita contra um adversário que, no momento, depende da estrela do PV para compensar uma campanha pouco empolgante.

A vitória em dois tempos, entretanto, não terá sido tão avassaladora como o presidente Lula sonhou. O poder da presidente Dilma será reduzido, possibilitando uma disputa mais acirrada em 2014. Ao escolher Dilma como sucessora, em vez de Marina, o presidente optou por um estilo de política em detrimento de outro, a companheira das obras no lugar da companheira ambientalista. Mas, fora do PT e longe de Lula, a estrela de Marina Silva ainda pode brilhar.

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