- O que tem aí dentro?
- Dentro de quê?
- De você.
- Dentro de mim. Por que isso te interessa? O que tem em mim, ninguém nunca deu a mínima.
- Eu me interesso por você. Eu me importo.
Silêncio.
- Diga logo. Eu sei que há infinitas informações e sempre há motivos cheios de farpas para esconder o que se tem por dentro.
- Eu sou normal, um cara comum. Isso ! Sou um cara comum, uma espécie falha como todas as outras.
- Tá vendo, você não é comum.
- Por que eu te interesso?
- Não sei. Deveria saber?
- E não deveria?
- Às vezes. Às vezes eu me interesso porque sinto as razões do meu interesse sem conseguir identificá-las.
- Não entendi.
- Não entenda. O que você guarda? Conte-me. Infiltrado nessa austeridade, controle, emoção antecipada, doçura sábia, medo arregalado, discrição rarefeita e intensamente penetrante .. Conta.
- Eu não sei.
- Sabe sim, porque confia nisso. Confia tanto a ponto de isso te bastar. Isso é suficiente e te permite lamber da vida só os sabores mais fortes.
- Não é nada disso.
Silêncio.
- Eu também me interesso por você.
- Ah, é?
- É. Só que você me confunde.
- Não gosta disso?
- Talvez.
- Eu não quero te confundir, eu quero ..
- Quer o que?
- Não sei. Alguma coisa eu quero.
- Mas não sabe o quê ..
Suspiros.
Silêncio.
- Fale-me, afinal, o que quer de mim.
- Ainda não sei. E eu, de que jeito você me quer?
Silêncio.
- Naquele dia que eu te encontrei depois de tanto tempo em frente a sua casa, você estava bonito. Estava bonito porque estava mais misterioso do que nunca. No seu olhar eu vi a mesma tática que eu uso, de deixar o outro te investigar enquanto controladamente relaxa as pistas de sensações que não podem ser reveladas prematuramente. Estava tão mergulhado em si mesmo, milimetricamente em sincronia com as suas vontades firmes e com a sua postura diante das suas dúvidas mais íntimas. Estava belo.
- Você gostou, então?
- Você estava bonito, não disse que gostei. Não decidi se gostei. Fiquei delicadamente incomodada.
- Nós conversamos, nós rimos, eu me despedi de você naturalmente.
- Não.
- Sim. Eu fui até a sua casa com você, depois, porque eu gosto da sua companhia.
- Dessa parte eu sei.
- E de qual parte você não sabe?
Respiração controlada.
- Eu não sei da parte verdadeira, da parte que a minha paciência não dá conta de aguardar.
- Não entendo.
- Eu entendo e você entende. Sabemos disso.
Silêncio.
- Eu te descubro e você me descobre e a gente percebe o que só a gente percebe.
- E a gente não sabe o que faz.

- Mas vai fazendo devagarzinho ..
- Porque existem os ..
- Existe o que?
Silêncio.
- Conta. Conta pra mim o que tem aí dentro.
- Nada. Já disse.
- Tem sim. Porque o que tem aí dentro me faz sorrir. Eu preciso saber o que tem aí, mesmo.
- Aqui tem vontade de te abraçar, apostando em nós pra extrapolar a adrenalina e chamar a alegria pra perto.
- Conta também.
- Eu te acho tão bonita.
- Conta o que você quer, vai ..

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