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Quando se age com mais atenção ao outro, algo de bom acontece com a gente mesmo
Imagine que você está só numa terra estranha, não domina a língua do lugar, perdeu suas coisas, está sem dinheiro e à beira do desespero quando, inesperadamente, uma pessoa desconhecida se dispõe a ajudar desinteressadamente e reaviva sua confiança na bondade humana.
Imagine que você está só numa terra estranha, não domina a língua do lugar, perdeu suas coisas, está sem dinheiro e à beira do desespero quando, inesperadamente, uma pessoa desconhecida se dispõe a ajudar desinteressadamente e reaviva sua confiança na bondade humana.
Esse é o tema de uma série de relatos reunidos no livro The Kindness of Strangers (algo como “A bondade de estranhos”), ainda não editado no Brasil.
O curioso é que todos os depoimentos do livro falam da surpresa em perceber que ainda há a prática dessa virtude num mundo em que todos os dias surgem fortes exemplos de seu contrário, como a grosseria e o desprezo.
Gentileza é uma virtude que seria inerente ao próprio ser humano, mas que se perde no dia-a-dia. Daí a surpresa.
Nesses dias, demonstrar amabilidade com estranhos parecerá uma excentricidade, pois tornou-se normal agir com o coração endurecido, evitar envolvimento, passar adiante.
Alguém já disse que a gentileza que acaba recebendo maiores recompensas é justamente aquela que se faz sem intenção de receber recompensa alguma.
Ainda que seja um ato espontâneo e desinteressado, a gentileza traz efeitos benéficos para quem a pratica.
Talvez haja estudos de psicologia provando isso.
Mas não é preciso recorrer a eles para perceber que, quando se age com mais atenção ao outro, algo de bom acontece com a gente mesmo.
Senti isso na pele ao praticar com atenção pequenos gestos cotidianos, que talvez nem sejam gentileza em si, mas apenas uma espécie de bom comportamento que vai se perdendo em nossas vidas, como dar passagem a um outro motorista no trânsito, desejar um bom dia sincero, deixar que aquela pessoa mais apressada tome o lugar na fila.
Não há nada de excepcional aí, mas é notável como isso nos deixa melhores – principalmente para alguém que, como eu, já disputou selvagemente uma vaga de estacionamento ou quase explodiu por causa de um lugar na fila.
O desafio é não ser tragado pela falsa urgência que nos torna desatentos a essas pequenas coisas.
Existe um prêmio para atitudes desse tipo que apresentam alcance um pouco mais amplo.
É o “Gentileza Urbana”, criado pelo Instituto dos Arquitetos de Minas Gerais, que escolhe e premia ações como a de um senhor que, por iniciativa própria, e sem ganhar 1 centavo por isso, varre as ladeiras de Ouro Preto durante a madrugada; o músico que, ao entardecer, da janela de seu apartamento, espalha melodia pela vizinhança; os lixeiros que trabalham cantando; a vovó que conta histórias, não só para seus netinhos, mas para todos que queiram ouvi-la.
O interessante é como os organizadores definem essas gentilezas.
Antes de mais nada, não são obras de caridade, como o jantar beneficente ou a campanha do agasalho.Nem mesmo são atos de educação e civilidade, como ceder o lugar ao idoso e obedecer à fila.
“A gentileza não espera reconhecimento, não paga culpa e não faz obrigação. A gentileza surpreende e afaga”, explicam.
Às vezes é exatamente isso que nos falta, surpreender e afagar sem esperar nada em troca.
Por Caco de Paula, publicado originalmente na Revista Vida Simples.
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